sábado, 14 de janeiro de 2012

Convento de Jerico

Convento de Jericó

Despimo-nos do corpóreo e do incorpóreo 
Aqui, em terras ribatejanas 
Onde em tempos frades capuchinhos se devotaram a S. Baco 
Votos de pobreza, oração e trabalho respiram-se!
Ainda se sentem as suas pegadas diárias 
Em busca da santidade desbotada no real das duas vidas
Chego e poiso o meu tripé
Tiro da mala o meu estojo 
Escolho o meu melhor pincel 
Começo pelo verde
É tão intenso e vivo que não posso resistir-lhe por muito tempo 
Um manto verde cobre quase todo o chão 
Apenas entrecortado pelos caminhos bejes da terra agora pisada e repisada por rodados de carros 
Talvez em outros tempos se vissem cavalos, carroças e até mesmo os cajados dos frades
Galhos castanhos repousam nesse manto verde
E sobressaem florinhas amarelas de caule verde
Daquelas que em miúda chamava de "azedas" e que chupava às escondidas de todos!
A sensação do azedo arrepiava-me a pele!
O vento da-lhes de quando em vez e sente-se uma brisa suave que me faz ouvir a melodia
"Nas asas do vento que vem..."
Continuo pincelando no meu cenário natural 
Árvores, muitas árvores povoam as margens do rio 
Árvores de tronco principal grosso, disforme, e ramificado em raminhos fininhos e completamente nus
A sensação é que estarão secos mas a sua cor castanha escura e viva, afasta-a
Daqui onde coloquei a minha tela o rio faz uma saliência arredondada
Hoje há mais lodo viscoso, escuro, castanho do que água
Mas quero pintar água, 
Água que cobre estas ilhas de terra e lodo que se vêem 
E esta ausência da vida dos peixes
Visto deste ponto 
O rio quase parece pequenos lagos que se tocam em margens de terra comuns 
Margens que são amontoados de ramagens, de arbustros, de vegetação 
Na sua maioria acastanhada
Em todos os castanhos que a minha palete de tintas consiga fabricar
Quando páro a avidez da pintura e me sereno
Pássaros aos pares, sozinhos ou em família vêm para mais perto 
E oferecem-me o doce dos seus corpos
A luminosidade das suas penas 
E a frescura dos seus cantares 
Um deles, branco, grande, quiçá uma garça,
Fez um vôo bem rasteiro à água e abriu por completo as suas asas 
Num misto de pertença e de liberdade 
Buscando um rumo e deixando-se conduzir 
O sol desceu
Afinal sempre vou pintar o pôr-do-sol 
Como aquele que se reproduz numa das minhas memórias mais felizes 
Jericó, a "Cidade das Palmeiras" 
Quase que poderia ser aqui 
Aqui, poderia ser o que se quisesse 
Por isso, pinto o céu de azul claro, em mantos brancos que se adensam mais nuns lados do que noutros 
E junto ao rio, a uma distancia simpática e apelativa
Vou fazer nascer uma casa de madeira
Com um alpendre grande e uma cadeira de baloiço 
Para onde dão duas grandes janelas largas e a porta de entrada 
Com um corrimão que sustenta pequenos vasos de amores perfeitos 
E uma esteira suspensa com uma manta azul turquesa 
Cheira a jasmim do chá quente acabado de fazer e posto na mesinha pequenina da rua
As bolachas de canela estão no frasco de vidro de tampa dourada 
Sentamo-nos nas almofadas laranjas "pele de pêssego"
E lembro-me de pensar: 
Aqui, em terras ribatejanas 
Onde em tempos frades capuchinhos se devotaram a S. Baco 
Votos de felicidade e amor em estado puro 
respiram-se!

2 comentários:

Paula disse...

Belo, simplesmente belo!

Anónimo disse...

Abraço sim
pérola do oceano
sinto-te humedecer meu corpo, em cada abraço em que te aperto...
sinto-te dares-me a tua humidade e em simultâneo o teu calot...
deixo-me ficar neste abraço doce
prolongamos este abraço
e um sorriso envergonhado, mas de satisfação... se solta
e finalmente, reptio a palavra que permanentemente está á porta dos meus lábio:
AMO-TE
Abraço sim
No convento de Jericó
Onde a história se mistura com a lenda
Mas onde o passado está contido no presente
E onde a arte descritiva
Contém cor, mas também na ausência do silêncio ou na presença dele mesmo...
Onde a natureza salta de dentro para fora e de fora para dentro....
Obrigado...
Abraço sim...