terça-feira, 30 de novembro de 2010

O cântico dos salmos

Levanto-me
respiro a brisa do mar
deixo o sol entrar nos meus poros
deixo a minha pele chorar de alegria
a fita do meu cabelo desprende-se de novo e o vento mostra-o
Introduzo-me
o meu sorriso projecta-se até ao céu
e o seu reflexo ilumina o meu ser
Não preciso de casaco porque é Verão
Não preciso de casaco porque TU me aqueces
Vou indo
nua
navegando nas ondas fortes da praia
com a certeza de que posso voltar a terra quando quiser
enlaço-me
E logo jorra o eu que me abraça
e logo brota o cântico dos salmos

Elevo-me
E depois saio
flutuando
voando
E tu estás à minha espera
e olhas para mim
terno
calmo
amando-me
nua e linda...

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Abraço...


A fita do meu cabelo desprendeu-se
O meu interior soltou-se
Deixei-me visitar pelo eu
Abro os braços na ânsia de que venha novamente...

sábado, 27 de novembro de 2010

Está frio e eu não tenho casaco...

Vivenciei uma experiência de dor...
Estava num parque de estacionamento movimentado. É quase Dezembro e a azáfama natalícia já se faz sentir. Estacionei o carro num ponto longínquo para fugir a qualquer hipótese de ser vista ou reconhecia. Se há momento que gosto de fazer sózinha e com calma são as compras. Saí do carro sem grande vontade... está frio e não tenho casaco.
Os meus passos foram perros e desnorteados mas em breves minutos entrei no supermercado. Não estava muita gente mas logo à entrada uma pessoa me abordou - peditório do Banco Alimentar. Dei meia volta e... uma pessoa conhecida...
Fiz as compras meio desnorteada. Apesar da lista que sempre levo, apesar de nem estar muita gente, parece que de repente tinha perdido o sentido das coisas... O leite onde estará? Quero água? Sei lá em que corredor se encontra...
Quando finalmente consegui completar a lista de compras e ter o meu carrinho quase cheio pensei que tinha a missão cumprida, inclusive, dois ou três pacotes seriam para o Banco Alimentar.
Já na caixa, senti frio. Pois, está frio e não tenho casaco.
A senhora que ali se encontrava teve o profissionalismo de me arrumar as compras. Era bastante simpática aquela senhora e eu hoje não fui simpática, sei que não fui... talvez apenas educada porque a boa educação não ocupa lugar e é uma regra básica de convivência em sociedade.
À saída do supermercado lá deixei o meu contributo para o Banco Alimentar e não contive o meu pensamento nas milhares de familias que poderão passar "fome"... ou mesmo fome! E é arrepiante...
O caminho até ao carro paraceu-me mais longo.
O carrinho estava pesado, havia alguma agitação de carros e pessoas, a tal azáfama natalícia...
Coloquei as compras na traseira do carro com alguma dificuldade. As minhas mãos estavam geladas, doiam-me as costas e tinha algum sono e fome à mistura. Depois de todas no seu devido lugar voltei para guardar o carrinho das compras. E mais uma vez regressei ao carro.
Sentei-me, liguei-o e curiosamente tocou "End of may" de Michael Buble.
Nesse instante senti o frémito do meu corpo... Está frio e não tenho casaco.
Deixei-me ficar, tremendo, e depois, e sem conter, escorreram em caudal denso lágrimas grossas e pesadas sob a minha face...
Vivênciei uma experiência de dor...
Senti-me esvaziar. Senti-me sózinha...
As teclas do piano dessintonizaram e gritaram no escuro da noite uma melodia pesada, densa e muito muito ausente... Enregelei e assim fiquei...
até que minhas lágrimas secassem, até que...
Pois, para onde poderia ir...?
Está frio e eu não tenho casaco...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Atraco-me...


Atraco-me
sinto os meus pés ondulantes
navego sobre águas e areias
sem norte, sem rumo
Atraco-me
mas apenas de quando em vez
quando sei que estás ou que vais chegar
assim mesmo, lado a lado
ondulamos mutuamente
vejo-te chegar
vejo-te partir
vejo-te
olho-te
respiro-te
toco-te de quando em vez 
Atraco-me
assim mesmo, lado a lado
na ânsia que fiques e não partas
na esperança que voltes quando partes
Vais, vens,...
Escuta
consegues ouvir?
Encosta ao teu ouvido este búzio do mar
assim mesmo, lado a lado,
consegues ouvir?
Atraco-me...

A dança da lua

Movimento-me suavemente. Passo despercebida. Vou conquistando o meu espaço.

Dou pequenos passos.
Assemelho-me a uma romã rosada mas sou como o véu que te cobre.
O meu cabelo preso em rabo de cavalo quer libertar-se e esvoaçar perdido nesta noite.
Descoberto o meu pescoço, arrepia-se, no tilintar das tuas mãos pequeninas, doces e macias.
Calço sapatos de salto alto.
Inspiro a fragância da noite na sua tonalidade escura. O som dos grilos dilata-me os ouvidos.
Saio de repente cá para fora num misto de fé e de ansiedade!
A minha blusa de centim aparece incólume
Agito-me, baloiço-me
Sou brindada pelo sorriso das estrelas....

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O meu solitário

Tenho um solitário em minha casa que é perfeito. Não é fácil imaginá-lo mas posso dizer que há de vários tamanhos, cores, feitios mas o meu é perfeito...
Curiosamente esteve muito tempo sózinho, se calhar influenciado pelo seu nome mas depois fez-se acompanhar todas as semanas de uma beleza natural.
Essa beleza murchou e ele voltou a estar sózinho.
Como a companhia faz falta, arranjou uma não tão natural mas que pelo menos permanecesse com ele todos os dias...
Apenas há uns meses conseguiu encontrar o seu verdadeiro perfect fit
É uma beleza natural que apesar de não ser extremamente graciosa tem particularidades: não murcha facilmente, ganha raíz, o seu formato é em espiral e foi oferecida por alguém muito especial.
O seu nome não é importante mas hoje quero falar-te dela: Ana Rita.
Olhos doces, meigos, cor de mel, algo tristes mas brilhantes quando sorri. Cabelos castanhos claros. Silhueta franzina e baixa. Um jeito envergonhado e tímido. A voz serena, concentrada, amiga. Uma menina sonhadora... que sofreu um desgosto.
Conheci-a menina e eu fui a escolhida para participar na sua passagem a mulher. Só hoje me dou conta... Quando tive a minha primeira mestruação estava, felizmente, em casa e o meu irmão é que me alertou para o sangue que tinha nas calças do pijama! Com a Ana Rita não foi assim e eu estava lá... eu que não sou a mãe, nem a irmã, nem sequer propriamente a amiga.
Lembro-me do rosto de aflição, do receio em contar-me e de uma certa vergonha... Hoje olhando para trás se calhar podia e devia ter apoiado melhor este momento. Ana Rita perdoa-me...
Afinal estava estampado em ti, és especial e eu tinha uma missão para contigo... mas não desisti e de novo precisas de mim e eu, aqui estou!
Tu não és o meu solitário, também não és a beleza natural que o acompanha, tu és sol, és luz, tu podes brilhar. Podes ser um anjo e eu vou ajudar-te a erguer de novo as tuas asas.
Ana Rita, apesar de tudo, ainda é cedo para te cingires ao meu solitário...
Solta-te, sai da gaiola, voa, porque tu podes, tu tens asas!

Abraço querida

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Quando um dia...

Quiseste...

Agarraste o meu braço para parar
Quiseste suspender
Mas o meu coração cavalgou a tua montanha
Agarraste a minha mão para parar
Quiseste interromper
Mas o meu coração galopou o teu ser
Quiseste...
mas não conseguiste
O meu corpo devorou-te em relâmpago de prazer!
Sonhaste?
... é bom sonhar...

Quando um dia conseguir libertar-me
Quando um dia me expandir
e me exprimir assim...
alcançarei o êxtase
do meu "eu" desconhecido...

Amor, pois que é palavra essencial
Amor - pois que é palavra essencial
comece esta canção e toda a envolva.
Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,
reúna alma e desejo, membro e vulva.
Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
até desabrochar em puro grito
de orgasmo, num instante de infinito?
O corpo noutro corpo entrelaçado,
fundido, dissolvido, volta à origem
dos seres, que Platão viu completados:
é um, perfeito em dois; são dois em um.
Integração na cama ou já no cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
a essa extrema região, etérea, eterna?
Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
a fonte, o fogo, o mel se concentraram.
Vai a penetração rompendo nuvens
e devassando sóis tão fulgurantes
que nunca a vista humana os suportara,
mas, varado de luz, o coito segue.
E prossegue e se espraia de tal sorte
que, além de nós, além da prórpia vida,
como ativa abstração que se faz carne,
a idéia de gozar está gozando.
E num sofrer de gozo entre palavras,
menos que isto, sons, arquejos, ais,
um só espasmo em nós atinge o climax:
é quando o amor morre de amor, divino.
Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
nessa morte mais suave do que o sono:
a pausa dos sentidos, satisfeita.
Então a paz se instaura. A paz dos deuses,
estendidos na cama, qual estátuas
vestidas de suor, agradecendo
o que a um deus acrescenta o amor terrestre.
(Carlos Drummond de Andrade)

Só estou à espera...

Só estou à espera
que ela me deixe pensar 
e que na sua fúria ondulesca se esqueça de ocupar o meu espaço
Só estou à espera
que ela me deixe falar
e que na sua magnitude sereiana se esqueça de alguém que a quer ouvir
Só estou à espera
que ela me deixe tocar
e que na sua imensidão oceânica se esqueça do meu tempo
Só estou à espera
que ela me deixe ouvir
e que na sua dilatadora presença se esqueça dos meus cantares
Só estou à espera
que ela me deixe saborear
a textura da junção que mantém a individualidade
o gosto da mistura que sustenta a diferença

  




segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Eu...

Perguntei-me por mim
Não o faço frequentementemente
Normalmente não sei de mim
Mas hoje quis saber-me se sabia de mim
Respondi-me sobre mim de forma curiosa
Disse-me de mim: "aqui estou para o que for"
Não sei exactamente se compreendo o que me disse de mim
Mas sei perfeitamente que esta luta existe
Talvez amanhã me diga algo mais esclarecedor
Talvez depois de amanhã me sinta a navegar em mim
com legenda, com mapa, com manual de instruções?
Só sei deste eu quando sei de ti
Só conheço este eu quando te conhecer a ti
Só viverei este eu quando o eu deixar...

sábado, 13 de novembro de 2010

Meu anjo...

Meu anjo
juntaste-nos outra vez
Caminhava lenta e suavemente
Quando tu o chamaste
Eu nem quis acreditar!
Caminhava veloz e estrondosamente
Quando tu me chamaste
Eu nem quis acreditar!
De novo o brilho dos teus olhos
De novo a delicadeza dos teus gestos
De novo os teus cabelos esvoaçantes
no menear da tua cabeça
De novo a pureza do teu ser...

Meu anjo
juntaste-nos outra vez
numa seia de amoras silvestres
ele pacificamente reconfortante
eu eruptivamente desconcertante
juntaste-nos outra vez
e eu prometo-te
vou amar para sempre...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Como um grande carrocel...

Queria dar-te o céu, queria mesmo
Os meus olhos elevam-se a esse azul
E sinto essa magnitude
Esse ponto extra sensorial
Queria dar-te o mar, queria mesmo
As minhas mãos clamam esse azul
E sinto essa química
Esse fundo místico
Queria dar-te o infinito, queria mesmo
E dançar, dançar
sobre as nuvens
sobre as águas do mar
sobre os braços do celeste
Lançar-me
Fluir-me
Deixar-me ir
e deixar-me vir...
Ir e vir...
Ir e vir...
como um grande carrocel...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Caminho...

Caminho
perfumada com a flor do jasmim

por entre flores brancas
que se entrelaçam no meu corpo protegido
por umas vestes largas, curtas, esvoaçantes e brancas
os meus pés despidos
o meu cabelo preso ao lado
as minhas mãos semi-nuas
a minha boca húmida
os meus olhos reflexo de luz
Caminho
em frente
na certeza deste caminho
não vejo o fim
não vi o inicio
apenas olho agora
Sou acarinhada por pássaros
Beijada por borboletas
Acariciada pela brisa
que se faz sentir de quando em vez
e me penetra os pôros dilatados da minha pele
banhada por águas de cascata
Caminho...
em frente
e na verdade sem nenhuma certeza
nem aquela que olho agora
o que vejo agora é um instante
amanhã será o inicio que não vi
e depois de amanhã poderá ser o fim que não consigo ver
na verdade não tenho certeza nenhuma
a não ser que
Caminho...
em frente...

Sinto o coração a bater...

Sinto o coração a bater
tanto...
Pois, ainda bem!
Mas não, não é aí
O meu coração não bate dentro do peito
O meu coração bate de forma apressada
quer saltar e saltou
arrisca todos os dias outros caminhos
põe-se à espera
põe-se em marcha
avança a correr acelerado e...
de repente pára!
Mas onde bate ele?
Ai, não me digas que não sabes?
Não me digas que não descobres?
O meu coração nestes momentos não bate dentro do peito
O meu coração bate mais abaixo...
Mas onde bate ele?
Ai, não me digas que não sabes?
O meu coração não bate dentro do peito
ele saiu
saiu de renpente, bateu a porta
esqueceu-se do casaco e da carteira
saiu a correr
não come
não dorme
só quer correr, sair desalvorado
ele saiu
em busca de algo
em busca de ser apaziguado...
Agarra-o!
Agarra-o por favor porque se não agarras...
Ai, não me digas que não sabes?
...

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Eu sou do tamanho do que vejo

Onde você vê um obstáculo,
alguém vê o término da viagem
e o outro vê uma chance de crescer.
Onde você vê um motivo pra se irritar,
Alguém vê a tragédia total
E o outro vê uma prova para sua paciência.
Onde você vê a morte,
Alguém vê o fim
E o outro vê o começo de uma nova etapa...
Onde você vê a fortuna,
Alguém vê a riqueza material
E o outro pode encontrar por trás de tudo, a dor e a miséria total.
Onde você vê a teimosia,
Alguém vê a ignorância,
Um outro compreende as limitações do companheiro,
percebendo que cada qual caminha em seu próprio passo.
E que é inútil querer apressar o passo do outro,
a não ser que ele deseje isso.
Cada qual vê o que quer, pode ou consegue enxergar.
"Porque eu sou do tamanho do que vejo.
E não do tamanho da minha altura."

Fernando Pessoa

Cheguei a ti?

Ontem não consegui dormir
a areia bateu-me no rosto
o sol queimou-me os lábios
os meus cabelos ficaram embaraçados
as minhas mãos gretaram
até jorrar sangue vivo
Ao longe pareceu-me ver-te
mas o sol toldou-me a vista
e o meu coração toldou-me a visão
adormeci...
e não consegui acordar
os meus pés em ferida
encaminharam-se para ti
rastejei na areia fina quando fraquejaram
senti a areia na minha boca, nos meus ouvidos
e em todos os buracos e orificios do meu corpo
cheguei a ti?
Ontem não consegui dormir
estive no deserto...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Liberdade!


Phuket

Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)



domingo, 7 de novembro de 2010

Para ti

Para ti
que vasculhas o meu FB
os meus email's
confiante que assim me conheces,
nos conheces
Para ti
que acreditas conseguir alcançar sentimentos
com as tuas pesquisas
de génio alucinado
Para ti
que vives na busca de fragilidades
para explorar e expôr  
Para ti
com ou sem nome
que acreditas: "A cabeça dele só eu sei controlar"
Para ti
que vives este amor egoísta
que não respeita o espaço, o tempo, a vida de quem amas
Para ti
que não conheces o verdadeiro amor
o único, o puro, o infinito, o insondável, o omnipresente
aquele que sobrevive a tudo - ser mãe
A ti
faço hoje o favor
de não partilhar este comentário,
apesar de correres o risco de ele próprio o ler
já que conhece perfeitamente este blog e o seu verdadeiro autor
A ti
dedico esta bonita música de João Pedro Pais:

Conta-me histórias de tempos
A que eu gostaria de voltar
Tenho saudades de momentos
Que nunca mais vou encontrar
A vida talvez sejam só 3 dias
Eu quero andar sempre devagar
Até a ti chegar

Ninguém é de ninguém
Mesmo quando se ama alguém
Ninguém é de ninguém
Quando a vida nos contém
Ninguém é de ninguém
Quando dorme a meu lado
Ninguém é de ninguém
Quando fico acordado vendo-te dormir

Um raio de sol através de um vidro
Faz-me por vezes hesitar
Na vontade de estar contigo
Melodia paira no ar
Paira no ar

Ninguém é de ninguém
Mesmo quando se ama alguém
Ninguém é de ninguém
Quando a vida nos contém
Ninguém é de ninguém
Quando dorme a meu lado
Ninguém é de ninguém
Quando fico acordado vendo-te dormir

Preciso de ti...

Não sei de mim...
Não sei de mim porque não sei de ti...
Preciso de ti...
Preciso de amar...
Preciso encontrar-te...
No abraço
No olhar
Nas palavras não ditas
No sorriso
Procuro por ti incessantemente
E não descanso
Habito um corpo efémero que não me larga
Que não sabe para onde ir
Que não me deixa fazer o que quero
Preciso de ti
Muito mais do que preciso de mim...
Existo para lá do meu corpo
Porque tu existes em mim
Preciso de ti...

sábado, 6 de novembro de 2010

Amar...

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) - O Pastor Amoroso
 
 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Vou...

vou
na calada da noite
na frescura da humidade da terra
no uivar dos lobos
na sombra esguia da lua
no eco da batida
do teu coração
e na fusão do meu palpitar


vou
no silêncio da madrugada
na frescura dos campos verdes
no cantar do galo da manhã
na luz dos primeiros raios de sol  
no eco da batida
do teu coração
aguardar a tua chegada
de menino tímido mas crente
e receber de tuas mãos
o néctar perfumado do teu ser...  

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Estou feliz...

Duas pequenas palavras
de forma natural, genuína, expontânea 
Irradiaram luz
como raios de sol
como pétalas de estrela
como gotas de lua 
E acenderam 
a mais densa calma,
a mais crente certeza,
a mais profunda felicidade, 
que só o rasto do amor circunscreve.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Regresso do sol

Sobrepôr a minha mão na tua
Sentir a tua sobreposta na minha
Erguer uma torre,
como dizendo: é nosso  

Subir ao ponto mais alto 
Sentir a tua presença na minha
Erguer os meus olhos 
como dizendo: preciso de ti

Inspirar fundo 
Sentir-me tua  
Erguer-me 
como dizendo: olha amor, o sol regressou!

O meu nome dito por ti...

Queria ouvir o meu nome, agora, dito por ti
Queria que me chamasses, agora...
Tenho saudades, de todas as vezes em que o meu nome foi dito por ti
Tenho saudades que me chames pelo meu nome
Agora são poucas as vezes em que o ouço,
E não quero pensar que amanhã será ainda mais raro
Não sei como preencher este vazio
A ausência do meu nome em ti
Agora são poucas as vezes em que o ouço,
E não quero pensar que nunca mais o vou ouvir...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Mal-me-quer, Bem-me-quer...

Às vezes gostava que o tempo parasse.
E que nessa paragem desaparecessem, ainda que por momentos, as minhas obrigações, os meus afazeres, as minhas solicitações.
Uma paragem em que sentisse liberdade no tempo, no espaço, nas pessoas, nos encontros e desencontros,...
E gostava que parasse para ti também. Uma paragem mútua e em uníssono.
Quando o tempo não pára, não me sinto livre nele mesmo, nem nos espaços, nem nas pessoas, nem nos encontros e desencontros,...
Não sou livre de optar porque o meu tempo não pára...
E gostava que parasse... e que parasse para ti também...
Serias livre de optar e eu perceberia se optarias por mim...
Quando o tempo não pára, não sinto se optas livremente por mim ou se eu te sou imposta, se eu me imponho a ti...
Mas não consigo parar o tempo... e na marioria das vezes o que quero mesmo afinal é que ele corra!
Se ele correr eu vou atrás, na esperança de...
... de que optes por mim, de que queiras estar comigo, de que queiras ouvir-me, de que queiras ver-me...
Se o tempo ficasse agora estático e parado eu não te teria...
... porque não estás aqui e também não sei que opção tomarias...
Na maioria das vezes, quero que o tempo corra para ti,
mas sinto falta
do teu tempo a correr para mim...
Em menina conseguia parar o tempo desfolhando um mal-me-quer, bem-me-quer...
Sabia que naquele instante era livre de conseguir quem me quisesse bem. Contava as pétalas do mal-me-quer e só desfolhava aquele que sabia que ia dar em "bem"!
Hoje já não sei quantas são as pétalas... por isso opto, no tempo que corre e que não consigo parar, por não desfolhar o mal-me-quer, bem-me-quer...
Agora já sabes onde me levar
Agora já sabes onde o sonho me pode levar
A menina de olhos esverdeados e sardas ensina-te o caminho...

Yasamin

Estou a tentar abrir os olhos, sinto uma luz projectada sobre mim, não sei de onde vem, não sei onde estou.
Tapo os olhos da maneira que posso de modo a que consiga habituar-me a esta luminosidade. Ainda assim setas de luz perpassam para o meu rosto e sinto um calor desconhecido.
Apercebo-me neste instante que estou deitada e que sinto por baixo de mim umas rogosidades.
As minhas narinas são seduzidas por um aroma que me é familiar, não encontro a nascente deste rio mas sinto-me inebriada...
Decido movimentar-me, tento abrir os meus olhos mas a luminosidade permanece arrepiante. Tacteio, a minha mão esquerda não consegue exactamente decifrar.
Permaneço deitada.
Lentamente instala-se dentro de mim um aroma fortemente adocicado e quase me sinto desfalecer. Será assim o estado hipnótico? Quero concentrar-me para tentar compreender, mas não consigo focar-me.
Que desconhecido é este? Que coisa é esta que me inebriaga?
Sou interrompida por uma sonoridade... perfumada, arrepiante, eléctrica! Todo o meu corpo responde a este estímulo acutilante, enérgico e... upa! Ergo-me!
Ouço tambores, ouço flauta, ouço cítara, apetece-me flutuar, apetece-me dançar!
E páro... páro estarrecida! Não compreendo o que os meus olhos veêm... que branco meu Deus, que branco, que luminosidade, que brilho, que até a minha mácula se confunde. E este branco reflecte-se...
- Yasamin! Yasamin! Ouço alguém chamar alto.
Yasamin? Que língua é esta? Latim? Mas onde afinal eu estou?
Não reconheço este lugar... não reconheço ninguém!
- Ai!
Grito!
Sinto um puxão nas minhas calças e de imediato olho para baixo.
Vejo uma linda menina de olhos esverdeados. Ela estende-me uma flor e repete: 
- Yasamin
Aceito a flor e ela foge.
- Espera!
Mas não... Uma linda menina de olhos esverdeados e sardas, foge de mim depois de me ter dado aquela bela flor, a mais bela flor... Yasamin.
O meu coração está a galope, quer saltar-me do peito!
Todo o meu corpo é uma multidão de estímulos!
A minha mão esquerda sobe até ao meu rosto corado e quente e tenta acalmar a minha tez. Ouço de novo aquela flauta, aquela cítara mas passou o turbilhão dos tambores.
Não quero acordar agora...
Viro-me... pela primeira vez viro-me...
Que belo... Inesquecívelmente belo... reflectido em mim.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Encontro-me...

Estou aqui, onde mais poderia estar?
Estive lá, onde mais poderia ter ido?
E voltei de novo para aqui, onde mais me poderia encontrar?
E voltarei para lá, ou para outro qualquer lugar
Para me encontrares basta quereres...
Eu fujo? Não... Eu só fujo de mim...
E tu, foges?
Eu sei que sim, foges para o monte das oliveiras como Cristo. Fica em Paz, lá, ninguém, nem eu te podem encontrar, só tu te encontras, assim como eu me encontro agora aqui...