segunda-feira, 9 de maio de 2011

Coexistimos

Levaste-me a passear
gosto quando me levas a passear no campo e tenho a oportunidade de cheirar um mal-me-quer, chupar uma azeda e oferecer-te uma papoila
Parámos naquele sitio do costume,
o sol normalmente põe-se do nosso lado direito e ilumina os teus olhos brilhantes e plenos de ti
O cheiro a terra e a erva, daquela que não me lembro o nome mas que a minha avó dava aos coelhos, inunda as nossas narinas
Esvoaçam pássaros sobre as nossas cabeças e ao longe ouve-se a água que corre freneticamente por entre regos de terra
Beijas-me...
Olhas-me...
Tocas-me... daquela forma misteriosa, doce e ao mesmo tempo fulgurante que só tu sabes, que só tu consegues...
É tão bom... sentir que sinto falta de tudo...
de tudo de ti
de tudo em ti
de tudo em ti que é meu
de tudo de ti que me dás
de tudo de ti que não me dás mas que sinto, prevejo, cheiro, sinto, antevejo
de tudo o que de mim é teu
de tudo o que de mim nasce de ti
de tudo o que de mim permanece contigo
de tudo o que de mim fica quando partes
Conversámos durante horas, sem sentir o passar do tempo, sem pensar no Mundo...
Sem pensar em mim ou em ti... apenas nós...

Passou tanto tempo que obviamente era chegado o momento de partir...
Ponderámos...
Mas porquê partir já? Porquê não ficar mais um pouco?
Que amarras nos prendem?
Decidimos ir jantar
Sim, era tarde, tínhamos fome
Fomos juntos procurar um sitio especial e eis que encontrámos uma casa de madeira
Uma gente simpática nos acolheu
Engraçado, olham-nos sempre de uma forma especial, quase atónitos! Lembraste daquela vez que o senhor do café se enganou no teu troco? Foi fenomenal...
Tu dizes que eu tenho poder... um poder que descontrola as pessoas, mas estás enganado.
O poder é nosso!

Estava frio, por isso ficámos dentro de casa mas junto daquela janela de onde podiámos ver os peixes a saltar alegremente na água
Enquanto procurei que nos viessem atender tu detiveste-te num som... um som particular...
Eram rãs! Fantástico!
Há séculos que não via nem ouvia rãs!
E estávamos nós nesta brincadeira com rãs quando reparámos que nos acenderam uma lareira, "não propriamente pela necessidade do calor" disse-nos a senhora simpática, de facto não estava assim tanto frio, mas "é bonito olharem juntos o fogo, é o que vejo crepitar no vosso olhar", continuou ela...
Automaticamente, assim que ela nos deixou, fiz-te logo notar do nosso poder...!
Saboreámos uma bela refeição mas confesso que não me lembro de grandes pormenores.
Lembro-me do vinho
Escolheste um belo vinho para nós e ensinaste-me a saboreá-lo
O meu pai costuma dizer daquele tipo de vinho que "é frutado"
Não sei se era desses ou não, mas foi a primeira vez que o saboreei assim... deixámo-lo ficar na boca por uns instantes, fechámos os olhos e só passados breves segundos o engolimos lentamente... que delicia...!

Tudo fluiu na perfeição... e chegámos àquele ponto da noite em que, depois de tanto conversar, depois de tanto nos contemplarmos, depois de tanto nos sentirmos pensei mesmo que nada mais haveria a dizer...
E foi quando me contaste a história
A história do monge
Do seu aprendiz
E da mulher nas margens do rio...
Elevámo-nos ao mais alto cume do alheamento
Percorremos com o monge e o seu aprendiz uma floresta banhada de nevoeiro
Ajudámos aquela mulher a passar a margem do rio
E chegados ao convento... absorvemos juntos a moral da história...
Deixámos a mulher do outro lado do rio e não a carregámos connosco...

Vivemos
Existimos
Sonhamos
Há coisas que fazemos e outras que não fazemos
Há coisas que simplesmente sonhamos
E muitas outras que desejamos
Três dimensões em paralelo
mas sempre, sempre juntos
porque eu, tu e nós
efectivamente coexistimos...
e contigo
o meu eu não tem medo
e contigo
o meu eu ganha um novo sentido
o sentido do nós
o sentido de
coexistir...

1 comentário:

Ana disse...

gosto do blogge vou seguir beijos :P