segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Um mais um igual a...

Aproximo-me 
das tuas margens
dos teus limites
das tuas fronteiras
das tuas entradas
das tuas saídas
da tua nascente
e da tua foz
lentamente
suavemente
sem correntes...

Tu não me ouves
não me vês...
não me esperas...
sento-me e...
cheiro
a tua maresia
sorvo
o teu brilho
sinto
a tua mansidão

Sem querer
tu tocas-me...
lentamente
suavemente
sem correntes
em cada canto e recanto do meu ser...

Contigo
sou comigo
contigo
sou tu
contigo
sou connosco...
apelas-me a um eu
recôndito
escondido
desconhecido
cativo
e muitas vezes
inóspito...

E eu só posso responder-te...
um mais um igual a...
três...

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Nada mais há a dizer...

Fecho os olhos
consigo imaginar uma panóplia de sentimentos
um enleio de mixed feelings e de dores
um misto de vivências e de perdas
Fecho os olhos
consigo ver-me, ver-te, ver-nos
num Mundo mágico só nosso
numa descoberta poderosa de encontros e desencontros
Fecho os olhos...

Bebo do silêncio da noite o que preciso para acalmar meu coração
inquieto, solitário, a rebentar de saudades...
As minhas mãos procuram-se em busca das tuas...
O meu abraço fecha-se por não encontrar o teu...
Insuflo do silêncio do dia o que preciso para acalmar meu coração
dorido, sofredor, a explodir de amor por ti...
A minha boca procura incessantemente a tua...
O meu corpo fecha-se por não encontrar o teu...

Nada mais há a dizer...

"Sempre amei por palavras muito mais
do que devia

são um perigo
as palavras
quando as soltamos já não há
regresso possível
ninguém pode não dizer o que já disse
apenas esquecer e o esquecimento acredita
é a mais lenta das feridas mortais
espalha-se insidiosamente pelo nosso corpo
e vai cortando a pele como se um barco
nos atravessasse de madrugada
e de repente acordamos um dia
desprevenidos e completamente
indefesos
um perigo
as palavras
mesmo agora
aparentemente tão tranquilas
neste claro momento em que as deixo em desalinho
sacudindo o pó dos velhos dias
sobre a cama em que te espero"
(Poema de Alice Vieira)

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rubi

Pé ante pé...
na serenidade de um quarto
na serenidade de um momento
uma brisa te aconchega
um rio te corre
um manto te acaricia
e eu
pé ante pé te visito
e eu
pé ante pé te espreito
e eu
pé ante pé
reflexo do meu ser
musicalidade da minha alma
te encontro
pé ante pé...
O meu espírito se enleia ao teu
numa fusão
de pétalas miscelâneas
perfurmadas
desnorteadas...
Onde antes...
meus pés,
pé ante pé,
pisaram a amálgama vribração
do teu ser
qual diamante em bruto
Hoje...
meus pés,
pé ante pé,
flutuam por entre
raios de uma aurora
celestial
qual rubi escarlate
em pleno fulgor de êxtase!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Não existo...

Não existo
falo-te nesta linguagem
escrevo-te
mas não existo
Aceito ser humana
de vez em quando
para que me
transcrevam
Para que
falem de mim
falem por mim

Estou cansada de existir...
Vêem ver-me
vejam bem!
Mas para quê?
Eu não existo!
Deixei de existir há muito tempo...

No meu Universo
não sou
torno-me
moldo-me
misturo-me
enleio-me...

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Amar é uma vírgula

Amar
é uma benção
e é um risco constante
é um ganho
e uma perda em potência
é uma união
e uma solidão
é uma alegria
e uma angústia espontânea
é um cheio pleno
e um vazio esporádico
é uma liberdade
e uma prisão de quando em vez
muito boa
e às vezes muito má
Amar
é uma vírgula
sou eu
és tu
somos

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Viagem...

A ponta do meu dedo tocou no teu
Como um beijo roubado do infinito do mar ao céu
O caminho percorrido foi inamiginavel
Flutuámos
Navegámos
Muitas vezes não no mesmo barco
E muitas vezes sem remos.
As ondas do mar
Cobriram-nos tantas vezes
Como um manto cobriu Jesus
As ondas do mar
Suavizaram-nos tantas vezes
Como o abraço da Mae que nos aconchega no regaço
As minhas lágrimas fundiram-se nas tuas
E perderam-se nesse caudal azul celeste.
Fui tua tantas vezes
E tu foste meu...
Conduziu-nos a certeza
De uma viagem sem rumo e eventualmente sem destino...
Conduz-nos a certeza...
De uma viagem em busca do sonho...
Um sonho sem formato, sem tempo, sem lugar, sem certeza...
Um sonho incerto
Na certeza de que
sonhado incerto pode ser certo...
Na certeza de que
Sonhado incerto vive certo
No nosso coração...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Lembro-me...

Lembro-me do dia em que te conheci
E o teu sorriso foi esse
Lembro-me da nossa primeira conversa
E a tua voz foi essa
Lembro-me do primeiro momento sem mais ninguém
E o teu olhar foi esse
Olhavas pela janela
Falavas com os passarinhos
Fantasiavas
E ouvias-me...

Lembro-me da minha insegurança
De não saber que dizer
De não saber que vestir
De ter medo de olhar nos teus olhos...
De ter medo de sentir o bater forte do meu coração!

Lembro-me do que chorei
quando pensei que nunca mais te ia ver...
Lembro-me
do abraço não dado
do olhar não trocado
do beijo não sentido...
E do nó na garganta que sentimos...
tinha chegado ao fim...

Lembro-me do encontro na praia...
o sorriso, o olhar, a voz...
O não dado
O não trocado
O não sentido
E mais uma vez...
O não dito...

Preciso de lembrar-me de dizer...
AMO-TE!
E quero mergulhar nesse amor...

sábado, 1 de janeiro de 2011

Liberta-te!!!

O meu corpo não se sente.
Gritos frenéticos ouvem-se na escuridão e frieza da noite e à dor gélida dos meus músculos une-se um arrepio sonóro de duvida, incerteza áspera e fustigante.
Todos os meus pôros respondem a essas farpas acutilantes com uma repressão calculista. Os meus cabelos enleiam-se sem sentido numa teia desordenada e mal trabalhada.
As minhas unhas cravam-se, como águia dorida a quem roubaram o rebento, no primeiro parapeito de pranto descontrolado!
Jorra do meu coração o suor do pânico da solidão!
Quero acordar deste pesadelo que me aprisiona o espirito, a alma e o corpo... e me consome a espaços o ventre em chagas vivas e vulcânicas!
O meu corpo não se pode sentir...
O meu espírito tem de pairar fora daqui...
A minha alma... enterra-se num silêncio sepulcral...
É hora...