segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Numa casca de búzio

Outro dia pintei um quadro
sentei-me naqueles degraus de pedra, frios e rugosos, abri o meu caderno, procurei os meus pincéis e comecei...
O infinito não estava lá, não conseguia vislumbrá-lo, mas inexplicavelmente senti a sua presença em mim tão forte que julguei por momentos ter sido transportada para outra dimensão...
... no rio, escuro, denso, grosso, proiminente entre duas montanhas escarpadas em que nos píncaros as nuvens tocavam levemente e se misturavam numa simbiosa duvidosa. A tonalidade do rio não foi fácil de surgir e várias cores se sobrepuseram...
...em mim, em ti... mas tocaste-me no ombro levemente e senti que a realidade se agitou vertiginosamente...
... decidi por isso estagnar o curso do rio e pintar antes a folhagem alaranjada. Folhas de todos os tamanhos e feitios, tonalidades laranja, amarela, vermelha, num enleio...
... em espiral perfeita, como numa casca de búzio, única, luzidia, aconchegante sem se ver, mas certos de que estava presente, um infinito...
... mágico! E que irrompeu em largas pinceladas no meu caderno sem qualquer nexo ou sentido mas vibrante e intenso naquela cor...
... manchado, esbatido, mas lá... antes, agora e depois. Porque o antes já foi depois e também já foi agora e o agora já foi antes e também foi depois e o depois há-se ser antes e há-de ser agora...
... em línguas de fogo, que se interlaçam, que passam a nosso lado, que nos queimam a alma, o corpo, o espírito e nos transformam noutro ser, noutro tempo, noutro lugar...
... que clama por ti, que te quer, que te anseia, que te espera... e que chora o antes, o agora e o depois não sentido, não vibrante e o transforma... numa casca de búzio única, luzidia e aconchegante.

1 comentário:

Anónimo disse...

Inspirada....
Linda tela que mistura palavras com a música como se a cor saltasse e tivesse movimento