quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Tatuagem...

Infiltro-me na noite...
escura...
densa...
fria...
aterreradora...
sentir a tua falta é isto...
não é só não saber de ti...
não é só não te ouvir...
não é só não te ver...
não é é só não te sentir...
é infiltrar-me no mais escuro de mim...
é cortarem-me as asas
é sugarem-me a vida
é apagarem os meus genes
é formatarem o meu coração
é tatuarem-me a dor
... a dor da tua ausência...
...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Respiro...

Olha... que engraçado... há quanto tempo estás aqui?
Há quanto tempo me olhas assim?
Desde quando me sorris dessa forma?
Repara... que interessante... que forma tão bonita de acenar... que maneira tão doce de me dizeres "estou aqui"...
Sabes, gostava muito que conseguisses entrar dentro de mim... sim! Mesmo cá dentro!
Consegues imaginar o que seria navegares dentro do meu ser?
Muitas vezes venho aqui...
sento-me nesta areia fina e nem sempre quente como agora
descalço os meus sapatos e tiro as minhas meias antes de tudo
atiro-me para trás
deito a cabeça no chão
olho o céu
vejo as aves
vejo as nuvens e respiro...
Respiro...
daquela maneira que me ensinaste
com o peito todo
com o ser todo
com a alma toda
daquela maneira em que parece que queremos sugar todo o Mundo que conseguirmos...
queres não queres?
pois queres...
quem não quer?
...
Depois de me deliciar assim
levanto-me...
primeiro deixo-me estar sentada...
contemplo o mar
revejo-me em cada onda que bate forte
que se enrola, que se enleia
que tenta chegar o mais alto possivel e que depois vem vertiginosamente em queda e que bate...
que bate forte! Que se estilhaça! Que se espalha!
E que por fim se deixa misturar nessa areia... 
A seguir levanto-me...
ponho-me de pé...
começo a andar,
a seguir apresso-me e depois... 
Depois corro!
Depois grito!
Depois abro os braços!
Depois liberto-me...!
Ai se eu pudesse...
Se eu pudesse nunca mais olhar para trás
Se eu pudesse seguir em frente
Correr para sempre
Ir para além de tudo
Para além de todos
Para além de toda a matéria
Se eu pudesse apenas ir-me...!
...
Os meus cabelos...
Os meus cabelos chamam-me à realidade...
canso-me
atiro-me de novo para o chão
agora já não quero ver o céu
agora já não me delicio nas nuvens, nem nos pássaros
agora simplesmente me atiro
sou como a concha
sou como a pedra
que rola e rebola
vem e vai com as ondas...
agora sou novamente eu...
agora sou eu que tenho de ser eu...


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O anjo do algodão doce...

Sou a menina,
a menina criança,
alegre e feliz,
de mão dada com o pai.
Boina vermelha,
cachecol branco,
casaco azul marinho,
sapatos de fivelas brilhantes.

Caminhamos num mercado,
caminhamos ao ar livre,
impera a frescura invernosa,
fere-nos o som de carrocéis,
insufla-nos o cheiro miscelâneo de farturas, pão com chouriço e...
algodão doce...

Solto-me da mão do meu pai
e corro para ele...
Sento-me sobre ele...
acariciada pela sua leveza...
consumida pelo seu perfume e sabor...
irrigada pelo seu liquido pegajoso...
flamejada com o seu toque sedoso...
adormeço...

Envolta nesse manto
sedoso,
perfurmado,
suave e quente...
Que me toca,
que me conforta,
que me protege...
Descanso...
Sou o anjo do algodão doce...

Sou o anjo do céu
sou o anjo de todas as horas
sou o anjo das causas,
o anjo dos amores-perfeitos
e na minha inocência,
sou o anjo branco...
puro,
transparente,
cristal,
o anjo da entrega...

Sou o anjo que te ampara...
te sopra...
te aquece...
te embala...
Sou o anjo
que está onde os teus olhos veêm
que soa onde os teus ouvidos ouvem ´
que toca onde o teu abraço enleia
que transpira onde as tuas narinas inspiram
o teu anjo do algodão doce...