sexta-feira, 23 de março de 2012

The end...

Só hoje reparei
que a água do copo que está em cima da mesa de cabeceira secou por completo...
que as brasas da lareira se apagaram definitivamente...
que a escova dos dentes azul já não está encostada à minha...
que a cama se tornou mais larga nas ultimas noites
E que, a partir de hoje, faltará menos um dia para ganhar espaço no roupeiro...
Só hoje reparei
que algo está a acabar...
E que, a partir de hoje, faltará menos um dia, para o meu caminho seguir outro rumo...
"E viveram felizes para sempre", afinal não foi o The End...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Sorriso...

Sorriso audível das folhas
Não és mais que a brisa ali
Se eu te olho e tu me olhas,
Quem primeiro é que sorri?
O primeiro a sorrir ri.

Ri e olha de repente
Para fins de não olhar
Para onde nas folhas sente
O som do vento a passar
Tudo é vento e disfarçar.

Mas o olhar, de estar olhando
Onde não olha, voltou
E estamos os dois falando
O que se não conversou
Isto acaba ou começou?

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro



Bom dia para ti querido AC...
Era isso que queria ter-te dito esta manhã...
E sentir meus lábios deixar escorregar o sorriso que sempre se abre à tua presença... a física ou a que está em mim... e que paira em cada espaço em que estou, em cada momento que de mim se abeira ...
Não o disse por palavras...
Mas disse-o na água que percorreu o meu corpo...  
Disse-o na brisa da manhã...
Disse-o entre o ruído da realidade que comigo interagiu... 
Disse-o no silêncio do meu ser...  
E disse-o no meu coração...
assim que meus olhos abriram para este Mundo...
assim que tomei consciência do meu respirar...
assim que despertei para a nudez da vida...

quarta-feira, 21 de março de 2012

Esperar...

Este é o nosso segredo...
...

Hoje dou conta
Do nada que sou quando quero ser nada
Do frio que tenho quando quero ter frio
Do peso da alma quando a quero sentir pesada
Do seco dos lábios quando quero sentir secura
...
Hoje dou conta
Do que posso mudar e do que não posso...
...
O calor da tua mão no meu rosto
O cheiro da tua pele na minha pele
O húmido dos teus lábios nos meus lábios
...
São miragens... daquele beijo que não volta...

quarta-feira, 14 de março de 2012

Cascata

Corre uma suave brisa
E os pássaros cantam
Consigo até distinguir as suas diferentes melodias acompanhadas pelo bater das folhas secas do canavial que fazem, curiosamente, lembrar uma pequena cascata de água...
Um dia, gostava tanto de tomar banho numa cascata de água...
tombar a minha cabeça e sentir a água a correr...
Abrir os olhos devagar... e ver-te nas margens a olhar e a sorrir para mim...
E depois, sentir o calor do teu corpo a movimentar-se suavemente até mim, desejando o meu...
Despido, frágil e livre de tudo para ti...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dourado

Dourado o sol
Dourado o sabor
Dourado o som das palavras
Dourado o sentir 
O que flui de mim e o que flui de ti
Na exacta medida
Da indefinição
Na perfeita dimensão
Do mistério 
Deleito-me nesse dourado
Que sintonicamente hoje se manifestou
a partir de ti para
mim em
ondas suaves e
ternas, desenhadas na imaginação e no 
espaço do nosso ser...   

quarta-feira, 7 de março de 2012

Algo que se perdeu...

Estávamos deitados de lado
De frente um para o outro
E conversámos assim durante muito tempo
Dois amantes ávidos de si
Dos seus corpos
Dos seus gemidos
Entregues à delícia de se ouvirem
Selam essa conversa com um forte abraço
E ele com uma festa no rosto dela...
A mesma que hoje senti no meu rosto...
...
Hoje sei que o luto
Não é só quando um ente querido morre e nos deixa
Hoje sei que o luto
Não é só quando deixamos de ver, ouvir e falar a pessoa que amamos
Hoje sei que o luto
É a perda de algo
de momentos
de estados mais íntimos
de uma relação que se construiu
Tivesse ou nao tivesse um nome...
...
Hoje sei que o luto
Pode ser muito negro
Ou esbatido com outros tons menos escuros
Um cinza, um azul, até mesmo um laranja ou um amarelo!
Ainda assim,
haverá sempre uma ponta de preto
De negro
Um resquício de luto...
E por isso
De algo que se perdeu... e que não volta...

domingo, 4 de março de 2012

O que me resta...

Queres saber?
Eu digo-te
Sinto-me dentro de um pesadelo
Daqueles que fazes força para acordar e não consegues
Há momentos, em que até me convenço, que nada foi real
E que amanhã
Virás para mim de braços abertos e o teu sorriso lindo
Quando esses momentos vêm
Tento nervosamente parar o tempo, parar o pensamento e convencer-me que só essa sensação, só esse momento são reais...
Mas de novo vêm os contornos do meu pesadelo...
É real
Afinal eu até nem estava a dormir
Afinal eu até nem estava preparada para ouvir aquilo que teu coração ditou...
E agora
Sinto que por mais que este pesadelo pese
Terei de o enfrentar
Quando temos medos a melhor forma de os afastarmos é expormo-nos a esses medos
As tuas razões são nobres
São sentidas
São de um espírito que ouve o inaudível
E é por isso
Que o que me resta
É ajudar-te na tua decisão...
ISC

sábado, 3 de março de 2012

Silêncio...

Sinto que queres o meu silêncio...
Que precisas de silêncio...
O tempo certo, o tempo de falar... passou...
Deixei-o ir...
Sinto que me deste o ponto da entrega total...
E que agora... te recolhes...
Como antes eu me recolhi sem pre-aviso... aparentando a entrega total...
Apesar de tudo isto
Continuas a enaltecer e a cantar a minha beleza
Apesar de tudo isto
Manténs o teu espirito ligado...
Deste-me uma segunda oportunidade... foi assim que a senti...
E por isso...
Caem as minhas lagrimas...
Por saber e sentir que dificilmente voltará
Aquilo que nos proporcionaste...
Esboço entre as lagrimas o sorriso
Do canto dos pássaros
Do verde da natureza
Do cheiro da terra
Do toque macio da relva
E da alma e espirito que me permitiste sentir
Tantas e tantas vezes...
E busco de novo
A paz que excede o entendimento
Ainda que apenas nas minhas recordações e lembranças...
ISC

quinta-feira, 1 de março de 2012

Búzio

Sinto-o dentro de mim
Como se fosse um outro eu que nao eu
Como se fosse um duplo bater de coração
Uma voz que se sobrepõe à minha própria voz
Um sentir que se manifesta sobre o meu próprio sentir
Assim como quando encosto um búzio ao ouvido e ouço o mar
Ou quando uma onda me derruba e, enleada de água salgada e areia, fico sem saber de mim
É essa a sensação,
entre "o prazer de sentir e o turbilhão do ambiente que não conheço"
Que perdura dentro de mim...